Positividade Tóxica

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Seria a Positividade Tóxica a droga mais danosa na atualidade?

O termo positividade tóxico tem origem na psicologia positiva, idealizada pelo psicólogo americano Martin Seligman, datada no final da década de 90 e início dos anos 2000. Tal abordagem estuda a felicidade e promoção do otimismo. Porém, é sumamente necessário diferenciar a psicologia positiva em si do excesso de otimismo que invade o mundo contemporâneo. Atrás do discurso de felicidade constante e superação das adversidades, nota-se a crueldade a qual estamos submetidos: sem perceber, nos afogamos cada vez mais em cobranças irreais (como a obrigatoriedade de sempre extrairmos um ensinamento após a vivência um trauma); pouca empatia nas relações (pois ao sermos positivos em demasia, não permitimos que os outros, e nós mesmos, sintamos dor e sofrimento, sendo encarados como sinais de vulnerabilidade, fraqueza e vergonha); culto à hiperprodução (seja acúmulos de bens materiais, vida feliz e/ou ostentação constante dos mesmos na redes sociais).

 

Mas, o que seria o ‘negativo’?

O outro lado da moeda, ou seja, as emoções ‘negativas’, como tristeza, medo, angústia, entre outras, são reprimidas freneticamente. Tal atitude assemelha-se ao conceito de invalidação emocional, que se caracteriza pelo desmerecimento das emoções que uma pessoa apresenta. Por exemplo, é muito comum presenciarmos a situação: quando uma pessoa está triste, seu interlocutor apenas expressa “não fique triste, está tudo bem”, ou ainda “ah, mas poderia ter sido pior, você deveria estar grato por tal coisa”. Dessa forma, notamos a verdadeira falta de empatia diante do sofrimento do outro (mascarada pela precária corrente ‘Positive Vibes Only’). Ambos, tanto o sujeito ‘positive’ quanto o sujeito ‘sofredor’ encontram-se reféns no mesmo tipo de atitude, pois reprimem os sentimentos ‘negativos’, que, dentre inúmeras possibilidades, podem desembocar em doenças somáticas.

 

O negativo, de fato

A vasta literatura da psicologia e da medicina já alertam para os efeitos das emoções desreguladas na saúde física e mental do indivíduo. Porém, os danos da positividade tóxica também adentram no campo social, e aqui, nos deparamos com um problema tão grave quanto os transtornos somáticos.

A positividade tóxica é o jeito que a nossa sociedade está constantemente tentando dizer que só é certo ser feliz, e que sentimentos desagradáveis como tristeza, raiva e medo são errados e devem ser eliminados.

Essa positividade acarreta um enorme adoecimento do sujeito que, ao reprimir o sofrimento, dor e outras mazelas comuns na vida de todo o ser humano, gera uma enorme infantilização e imaturidade emocional. Sendo assim, muitos encontram-se despreparados e atemorizados frente a qualquer situação corriqueira que possam vir a lhe causar angústias e enfrentamentos. Logo, não seria exagero em dizer que, dentro da perspectiva deste tipo de positividade, não há amadurecimento emocional.

 

Reflexões finais

Chama atenção o sucesso estrondoso do filme “Divertida -Mente” (2015). Em suma, o longa discorre sobre a inter-relação das cinco emoções primárias (alegria, tristeza, raiva, nojo e medo), e da importância da presença de todas para um desenvolvimento saudável. Com lançamento previsto para este ano, “Divertida – Mente 2” trará mais emoções, logo, mais aventuras da jovem personagem, e certamente, muitas formas de lidar com todas elas. Talvez, o sucesso do primeiro filme, e grande expectativa pelo segundo, podem ser encarados como uma grande necessidade de que a sociedade tem em reconhecer e existir com várias formas de sentir.

Junto a isso, vale a leitura do livro “Sociedade Paliativa – a dor hoje”, do filósofo Byung-Chul Han, que também aborda sobre o tema nocivo da positividade tóxica e seus desdobramentos na vida cotidiana.

 

Fontes:

Positividade tóxica: o que é? Por que é prejudicial?

Filme: Divertida – Mente

Livro: Sociedade Paliativa – a dor hoje – Byung-Chul Han – Editora Editora Vozes – 2021

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